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Química com (um pouquinho de) contexto Unidade B ▪ Do que são feitas as coisas
Atualizado em 2 jul. 2025
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Átomos

Seções 5.1O conceito filosófico de átomo5.2O modelo atômico de Dalton5.3Símbolos e fórmulas químicas5.4Eletricidade e o modelo atômico de Thomson5.5Radioatividade5.6O modelo atômico de Rutherford5.7Partículas subatômicas5.8Número atômico e número de massa5.9Íons5.10Interações entre luz e matéria5.11O modelo atômico de Bohr5.12Estrutura da eletrosfera
Cinco lâmpadas cilíndricas, lado a lado, brilhando com as seguintes cores, da esquerda para a direita: laranja, vermelha, roxa, azul clara, roxa clara
FIGURA 5.1Tubos com gases nobres sob aplicação de uma tensão elétrica. Da esquerda para a direita: hélio (He), neônio (Ne), argônio (Ar), criptônio (Kr) e xenônio (Xe) Alchemist-hp / Wikimedia Commons

A Figura 5.1 mostra cinco tubos que contêm gases. Quando esses gases são submetidos a uma tensão elétrica eles emitem luzes, de cores diferentes. Esse é basicamente o fenômeno que ocorre em letreiros de neon e lâmpadas fluorescentes.

O que você conhece que emite luz? De que tipo, de que cor, a partir de qual material? O que você acha que causa esse efeito?

Toda matéria conhecida é formada por átomos, que são coisinhas bem pequenas, com características bem específicas, e que foram bastante estudadas e analisadas ao longo dos últimos séculos. Vamos ver o que esses átomos têm a ver com luzes, lâmpadas, neons e fogos de artifício.

O que tem neste capítulo

5.1O conceito filosófico de átomo

Ideia centralOs filósofos gregos Leucipo e Demócrito propuseram que toda matéria é formada por partículas indivisíveis, que eles chamaram de átomos.

Do que são feitas as coisas?

Não, sério, pare e reflita um pouco. Você deve estar lendo este texto num computador ou num celular (ou até mesmo numa folha de papel se você tiver imprimido esse arquivo, olha só!). Do que são feitas essas coisas? O plástico, o vidro, os metais que estão presentes nesses eletrônicos, são materiais contínuos? Ou você acha que se nós pudéssemos ampliar infinitamente um pedaço desses materiais encontraríamos algo fragmentado, descontínuo?

Essa dúvida entre matéria contínua e descontínua foi muito presente há uns bons dois mil e poucos anos, na época de vários filósofos. Lá pelo século 5 a.C., o filósofo grego Leucipo e seu pupilo Demócrito (cerca de 460–370 a.C.) propuseram a ideia de que a matéria seria descontínua. Imagine um pedaço de madeira, um pequeno galho; agora imagine-se quebrando esse galho ao meio, pegando um dos pedaços, quebrando-o, e assim sucessivamente.

A ideia de Leucipo e de Demócrito é que eventualmente se chegaria num ponto onde seria impossível continuar dividindo aquele pedaço de madeira. Esse pedaço indivisível (e minúsculo) ainda teria as características da madeira original, e seria o constituinte dela: na verdade aquele pedaço de madeira não era contínuo, e sim constituído de pequenas partículas minúsculas indivisíveis, que receberam o nome de átomos (do grego, “indivisível”). Os átomos guardariam características e formatos próprios, que influenciariam na forma macroscópica do respectivo material que eles constituem.

Mais pra frente, ali por 330 a.C., Aristóteles não concordou muito com essa ideia. Pra ele, as coisas eram formadas pelos “elementos” água, terra, fogo e ar, que seriam contínuos, não formados por átomos. A falta de testes que validassem a ideia de Leucipo e Demócrito não ajudava a esclarecer essa questão.

Muito tempo se passou, houve até mesmo uma “renascença” das ideias atomistas de Leucipo e Demócrito (e também de Epicuro, 341–270 a.C., que havia aprimorado essas ideias) depois do século 14, mas nada muito conclusivo.

Isso até o século 18…

5.2O modelo atômico de Dalton

Ideias centraisA primeira ideia de átomo com fundamento experimental foi proposta pelo químico John Dalton: toda matéria é formada por átomos indivisíveis, que se combinam para formar substâncias. Dalton determinou as massas relativas dos diferentes elementos.

Perto da virada do século 17 para o 18, várias reações químicas foram estudadas bem a fundo. Químicos europeus, como Lavoisier e Proust, fizeram e catalogaram vários resultados, e o importante nisso é que eles prezavam bastante pelas medições durante esses processos. Lavoisier publicou um livro sobre isso, Tratado Elementar de Química, que basicamente tem um monte de reações e as massas envolvidas nelas. Esses dados mostraram que há algumas relações bem interessantes entre as massas dos participantes de uma reação química.1

Um desses químicos foi John Dalton. Realizando experimentos, e combinando com os dados de outros cientistas, Dalton propôs que os mesmos elementos químicos podiam se combinar para formar substâncias diferentes, e que as quantidades envolvidas nas diferentes reações estariam relacionadas por uma proporção de pequenos números inteiros.

Por exemplo, carbono e oxigênio. É possível combinar uma “parte” de carbono com uma de “oxigênio” e formar uma substância chamada (atualmente) de monóxido de carbono. Mas também é possível combinar uma “parte” de carbono com duas de “oxigênio” e obter outra substância, o dióxido de carbono.2

Dalton conseguiu unir seus resultados com aquela ideia filosófica de que as coisas seriam formadas por átomos, e as coisas encaixaram muito bem. O que Dalton propôs foi, basicamente, que:

Em essência, Dalton propôs uma teoria científica, que foi desenvolvida a partir de hipóteses (lá dos filósofos gregos) e experimentos realizados que indicavam que aquelas hipóteses eram corretas. Compilando essas informações, chegou-se à teoria atômica de Dalton.

E não, “teoria” em ciência não é um chute, ou um “acho que…”; é um trabalho extremamente elaborado, que foi feito a partir de vários testes e experimentos, que ajudaram a chegar numa conclusão. Não é algo definitivo, claro (nós veremos como a teoria atômica mudou nos anos seguintes), mas é sustentado com as informações que se tem até então; se surgirem dados concretos e confiáveis3 que não se encaixem nessa teoria, ela pode ser modificada, ou até mesmo descartada.

Dalton catalogou vários átomos simples e compostos, e também medidas dos pesos4 relativos desses átomos. Pra isso, estipulou que a massa do elemento hidrogênio seria 1, e fez os experimentos e cálculos necessários para determinar as massas dos outros elementos. O seu livro A New System of Chemical Philosophy contém uma lista de símbolos dos elementos e suas respectivas massas, além de algumas combinações propostas (Figura 5.25).

Símbolos de Dalton para elementos (círculos individuais com linhas, pontos e preenchimentos diferentes) e substâncias (grupos com esses círculos)
FIGURA 5.2Alguns dos símbolos usados por Dalton adaptado de Kurzon / Wikimedia Commons

Tempos depois, o conceito de átomo composto proposto por Dalton foi trocado pela ideia de molécula, proposta pelo químico Amedeo Avogadro. Dalton estudou as proporções de massa nas reações, e Avogadro estudou proporções de volume (em reações com gases)6; os estudos de Avogadro mostraram que, apesar das relações de massa propostas por Dalton estarem certas, as conclusões dele tinham algumas incorreções. Por exemplo, Dalton propôs que o átomo composto de água teria um átomo de hidrogênio e um de oxigênio. Avogadro verificou que na verdade era mais provável que a água fosse formada por moléculas (pequenos grupos de átomos unidos) com dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio; isso ainda mantinha válidas as relações de massa, mas também validava as relações de volume.

Modelos de representação de átomos, moléculas, substâncias e misturas

A teoria atômica de Dalton pode ser ilustrada através de modelos. Um modelo típico é o modelo esférico, onde cada átomo é representado por uma esfera colorida (ou um círculo, se for no papel ou na tela). Modelos são úteis porque dão uma ideia da estrutura dos átomos e das substâncias, mas não correspondem perfeitamente à realidade. Por exemplo, átomos não têm cor; usamos cores pra diferenciar os elementos (e pra ficar bonitinho). Na Figura 5.37 estão algumas representações de substâncias cotidianas usando o modelo esférico, a partir as composições conhecidas atualmente.

Modelos moleculares das substâncias hidrogênio, oxigênio, água, gás carbônico e amônia
FIGURA 5.3Modelos moleculares de algumas substâncias; cada bolinha representa um átomo (branco = hidrogênio, vermelho = oxigênio, cinza = carbono, azul = nitrogênio)

O modelo atômico de Dalton serve para explicar os comportamentos da matéria que nós vimos no Capítulo 1. Eventualmente esse modelo é chamado de modelo atômico-molecular da matéria.

Caixas com bolinhas, representando partículas genéricas. Na primeira (sólido), elas estão organizadas e vibram. Na segunda (líquido), elas estão desorganizadas, rolando umas sobre as outras. Na terceira (gasoso), elas estão afastadas indo para direções diversas
FIGURA 5.4Modelo atômico-molecular para os estados físicos

Quatro caixas com pares de bolinhas (azul = átomo de um elemento, laranja = de outro). 1 - Substância simples: vários pares de bolinhas azuis. 2 - Substância composta: vários pares idênticos com uma bolinha azul e uma laranja. 3 - Mistura homogênea: pares de bolinhas azuis e pares de bolinhas laranja, misturados sem ordem. 4 - Mistura heterogênea: pares de bolinhas azuis concentrados numa parte da caixa e pares de bolinhas laranja em outra.
FIGURA 5.5Modelo atômico-molecular para substâncias e misturas

5.3Símbolos e fórmulas químicas

Ideias centraisElementos químicos são simbolizados por uma ou duas letras (a primeira delas maiúscula). Fórmulas químicas representam substâncias.

Dalton usava símbolos circulares para representar alguns elementos. Hoje não usamos mais isso; seria um problema pra digitar, íamos ter que usar caracteres especiais, uma loucura… Usamos um sistema bem parecido com o que foi implementado pelo químico sueco Jöns Jacob Berzelius na década de 1810.

Cada elemento químico tem um símbolo, que é formado por uma ou duas letras derivadas do seu nome em latim ou em grego, e a primeira letra sempre é maiúscula. A Tabela 5.1 reúne alguns elementos comuns e seus símbolos.

TABELA 5.1Símbolos de alguns elementos químicos
Símbolo Nome Símbolo Nome
H hidrogênio Au ouro (latim: aurum)
O oxigênio Cu cobre (latim: cuprum)
N nitrogênio K potássio (latim: kalium)
C carbono P fósforo (latim: phosphorus)
Ca cálcio S enxofre (latim: sulfur)
Cl cloro Na sódio (latim: natrium)

Note que os símbolos vieram de outro idioma, então nem sempre eles batem com o nome em português. E isso acontece em outros idiomas também: pra nós tudo bem o ferro ser Fe, mas soa estranho pra quem chama ele de “iron”. Para evitar confusão (e alguns constrangimentos10), costuma-se ler os símbolos letra por letra: K (potássio) se lê /cá/ e Ca (cálcio) se lê /cê a/.

Quando queremos expressar a composição de uma substância, usamos fórmulas químicas. As fórmulas são escritas juntando os símbolos dos elementos em sequência, sem espaços. Por isso é importante sempre escrever os símbolos com apenas a primeira letra maiúscula: ajuda na interpretação das fórmulas.

Se um elemento aparece mais de uma vez na fórmula, se adiciona um número à direita e abaixo11 do símbolo que indica quantos átomos há daquele elemento; esse número é chamado de índice (ou atomicidade).

Por exemplo, para Dalton, um “átomo composto” de água era formado por um átomo de hidrogênio e um de oxigênio; atualmente, a fórmula da água proposta por ele seria escrita como HO. Mas hoje sabemos que a água é formada por moléculas com dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, portanto H2O. A Tabela 5.2 lista alguns exemplos de fórmulas químicas.

TABELA 5.2Fórmulas de algumas substâncias químicas
Fórmula Nome Fórmula Nome
H2 hidrogênio NaCl cloreto de sódio
O2 oxigênio H2SO4 ácido sulfúrico
O3 ozônio C12H22O11 sacarose
CO2 dióxido de carbono Ca(OH)2 hidróxido de cálcio

Agora, se nós queremos indicar quantidades “separadas” de átomos ou de moléculas, usamos coeficientes: números em tamanho regular que vão antes do símbolo ou da fórmula. Por exemplo, se eu precisar me referir a três moléculas de água, eu escrevo 3 H2O; o 3 se aplica à fórmula toda: no total essas três moléculas reúnem seis átomos de hidrogênio e três átomos de oxigênio.

5.4Eletricidade e o modelo atômico de Thomson

Ideias centraisCargas elétricas interagem entre si, atraindo cargas com sinal oposto e repelindo cargas com mesmo sinal. Tubos com gases eletrificados permitiram a descoberta do elétron, a primeira partícula menor que o átomo. J. J. Thomson propôs que os átomos são divisíveis, sendo formados por uma massa positiva incrustada de elétrons (negativos).

Um fenômeno muito importante causou uma mudança drástica na ideia de átomo que foi apresentada por Dalton: a eletricidade. Esse fenômeno natural, conhecido desde os anos 2000 a.C. por causa de peixes que davam choque, não era explicado pela teoria atômica de Dalton. O fenômeno da eletrização já era conhecido desde a Grécia antiga e desde o século 18 já se estudava a corrente elétrica; mas por que esses fenômenos acontecem? Será que faltava algo no átomo que ainda não tinha sido descrito? (Spoiler: sim.)

Cargas elétricas, atração e repulsão

No século 18 já se tinha uma noção de que a matéria apresentava comportamento elétrico. Todos os objetos possuem cargas elétricas de dois tipos: positivas e negativas. De maneira geral, esses objetos têm a mesma quantidade de cargas positivas e de cargas negativas, resultando em uma carga total zero, ou seja, são objetos eletricamente neutros. Se há uma diferença entre as quantidades de cargas positivas e negativas, haverá uma carga elétrica resultante (líquida), positiva ou negativa.

Cargas do mesmo tipo (com o mesmo sinal) se afastam entre si (ou seja, sofrem repulsão) e cargas de tipos opostos (com sinais diferentes) se aproximam (ou seja, sofrem atração):

cargas positivas atraem cargas negativas
cargas positivas repelem cargas positivas
cargas negativas repelem cargas negativas

Essa força de atração ou repulsão depende dos valores das cargas elétricas envolvidas (medidos em coulombs, símbolo C) e da distância entre elas.12 Quanto maiores as cargas (sem considerar o sinal) e/ou quanto menor a distância entre elas, maior a força.

Eletrização é o fenômeno da transferência de cargas elétricas em objetos, seja por atrito, contato ou indução. Ao esfregar (atritar) uma bexiga de borracha no seu cabelo, há a transferência de cargas elétricas entre a bexiga e os fios de cabelo. A bexiga atrai pra perto os fios de cabelo, indicando que eles possuem carga elétrica oposta; já os fios de cabelo possuem o mesmo tipo de carga elétrica, o que causa um afastamento entre eles, te deixando com o cabelo todo arrepiado.

Corrente elétrica e raios catódicos

É possível fazer com que cargas elétricas de um material se desloquem de maneira ordenada dentro dele: chamamos isso de corrente elétrica. Pense num fio de cobre; quando esse fio está ligado numa tomada ou numa bateria, existe um movimento de cargas elétricas nele, ou seja, num certo tempo (digamos, um segundo) passa uma certa quantidade de carga por um trecho desse fio (digamos, um centímetro). Quanto maior a quantidade de cargas que passam por esse fio, maior a corrente elétrica.

Próximo da virada dos anos 1900, houve alguns estudos da aplicação de corrente elétrica em gases sob baixa pressão. Esses gases eram colocados em tubos de vidro fechados, parcialmente evacuados, e dentro desses tubos haviam dois eletrodos ligados a uma fonte de eletricidade: o cátodo13 (eletrodo negativo) e o ânodo (eletrodo positivo).14

Descobriu-se que na região do cátodo surgia um brilho que aumentava de acordo com a redução da pressão. Esse brilho gerava raios que produziam sombras em alguns anteparos. Esses raios foram denominados raios catódicos (porque eram originados na região do cátodo).

O físico inglês William Crookes desenvolveu dispositivos onde era possível aplicar um alto vácuo nos gases, chamados de tubos de Crookes (Figura 5.615) ou tubos de raios catódicos, abrindo possibilidades de mais estudos sobre esses raios. Em resumo, Crookes e outros cientistas descobriram que:

Tubo de vidro, ligado a dois fios elétricos, com apenas uma pequena cruz metálica dentro.
FIGURA 5.6Tubo de Crookes. O eletrodo à esquerda é o cátodo (negativo) e o eletrodo ao centro, mais abaixo é o ânodo (positivo). A imagem de baixo mostra o tubo em funcionamento, com tensão elétrica aplicada entre os eletrodos: é formada uma luminosidade que parte do cátodo em direção ao ânodo, fazendo sombra da cruz de Malta na parede direita do tubo D-Kuru / Wikimedia Commons
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FIGURA 5.7Efeito de um campo magnético num feixe de raios catódicos. A: Tubo de Crookes desligado. B: Tubo de Crookes ligado: o feixe de raios catódicos se desloca em linha reta. C: Um ímã faz o feixe se encurvar para cima. D: Invertendo os polos do ímã, o feixe se encurva para baixo A, B, C, D: Zátonyi Sándor / Wikimedia Commons

Tempos depois, o físico inglês J. J. Thomson fez experimentos que demonstraram que esses raios catódicos eram formados por pequenas partículas, que eram as mesmas independentemente do material do cátodo. Thomson chamou essa partícula de “corpúsculos” e hoje em dia nós chamamos de elétrons.

Thomson então considerou que, como os átomos são eletricamente neutros, deveria haver algo com carga positiva para compensar a carga negativa dos elétrons. Ele considerou algumas possibilidades e, em 1904, propôs que o átomo seria formado por uma massa positiva repleta de pequenos elétrons espalhados por toda a sua extensão (Figura 5.816).

Esfera azul (com um sinal de mais) com várias bolinhas laranja (com um sinal de menos) na superfície
FIGURA 5.8Modelo atômico de Thomson. A esfera azul seria a massa positiva do átomo, e as esferas laranja seriam os elétrons

Esse modelo ficou conhecido como “modelo do pudim de passas”. Ninguém no Brasil come isso (Figura 5.976), então considere que o que Thomson propôs seria visualmente parecido com um panetone, ou um cookie com gotas de chocolate.

Uma espécie de bolo com uvas passas no meio da massa
FIGURA 5.9O tal “pudim de passas”, uma sobremesa típica do Natal inglês Musical Linguist / Wikimedia Commons

O modelo de Thomson, ao contrário do modelo de Dalton, conseguia explicar o comportamento elétrico da matéria: os elétrons poderiam ser transferidos entre átomos durante um processo de eletrização; quando houvesse um desequilíbrio na quantidade de elétrons, o material exibiria uma carga elétrica não nula.

TVs de tubo

Há algum tempo atrás, televisões e monitores de computador planos e finíssimos não eram a regra. Até hoje se conhece e se usa TVs e monitores “de tubo”, ou mais especificamente, do tipo CRT, do inglês “cathode-ray tube” = tubo de raios catódicos (Figura 5.1077).

Um tubo de um monitor CRT
FIGURA 5.10Um tubo CRT de uma televisão 14 polegadas Blue tooth7 / Wikimedia Commons

A formação das imagens num tubo CRT começa com a recepção do sinal analógico vindo das emissoras. Esse sinal é repassado para três canhões emissores de elétrons, dispositivos que jogam um feixe de elétrons bem alinhados numa direção (basicamente, são os raios catódicos). Todo o processo ocorre dentro de um tubo de vidro fechado bem resistente, com uma pressão interna extremamente baixa (praticamente vácuo).

Os elétrons são atirados rumo a uma tela fluorescente, e têm sua direção controlada por ímãs em volta do tubo. Os feixes batem na tela da esquerda para a direita, descendo ao longo dela, seguindo uma sequência de linhas horizontais. Essa varredura acontece uma certa quantidade de vezes por segundo, que depende do país. No Brasil, são 60 varreduras por segundo; na América do Norte também, já na Europa são 50.

Ao bater na tela, os elétrons fazem com que substâncias chamadas de “fósforos” (não são o elemento fósforo) se iluminem rapidamente e depois apaguem. Na tela existem fósforos de três tipos, que emitem luzes vermelha, verde e azul (Figura 5.1178), e que juntos conseguem reproduzir um grande conjunto de cores. Cada canhão atira elétrons na direção correspondente a uma dessas três cores primárias.

Uma grade de círculos vermelhos, verdes e azuis alternados
FIGURA 5.11Padrão dos fósforos coloridos numa tela fluorescente Marcin Floryan / Wikimedia Commons

Por causa do tempo que cada fósforo fica iluminado, cada varredura cobre as linhas alternadamente: uma cobre as linhas ímpares, a próxima cobre as linhas pares. Esse jeito de exibir (e também gravar) vídeos é chamado de entrelaçamento. Alguns vídeos antigos exibem artefatos (Figura 5.1279) quando não são convertidos de maneira correta.

Imagem de um carro. As linhas horizontais que formam a imagem estão desalinhadas, dando um aspecto "fantasma"
FIGURA 5.12Imagem com artefatos de entrelaçamento Mikus / Wikimedia Commons

Fontes consultadas: CAPTAIN DISILLUSION. CD / Interlacing, 3 jun. 2019. / MANUAL DO MUNDO. TV de tubo X Jato d’água #OQueTemDentro, 22 fev. 2018. Acessos em: 18 jan. 2021

5.5Radioatividade

Ideias centraisÁtomos podem emitir radiação espontaneamente. Existem três tipos fundamentais de radiação: alfa, beta e gama.

No final de 1895, o físico alemão Wilhelm Röntgen descobriu que os tubos de raios catódicos também emitiam um novo tipo de “raios” invisíveis, que podiam atravessar papéis, papelão e até livros. Röntgen deu a eles o nome de raios X, já que a letra X é usada para descrever algo desconhecido na matemática.

Essa descoberta de Röntgen causou interesse nos cientistas. O físico francês Henri Becquerel, que já estudava o fenômeno da fosforescência, procurou uma conexão entre este fenômeno e a existência recém-descoberta dos raios X.

Em 1896, Becquerel fazia experimentos com substâncias fosforescentes, e percebeu que, apesar de elas brilharem por causa do fenômeno, elas não manchavam papéis fotográficos quando envolvidas em papel escuro (que barraria o brilho) — exceto compostos com o elemento urânio. Mesmo dentro do papel escuro, esses compostos causaram manchas no papel fotográfico. Compostos de urânio não fosforescentes e até mesmo o próprio urânio na forma metálica pura causavam o mesmo efeito.

Becquerel deduziu que o urânio emitia raios invisíveis (similares aos raios X, a princípio) que atravessavam o papel escuro e manchavam o papel fotográfico como se ele tivesse sido exposto à luz. Estudos posteriores mostraram que esses raios eram bem mais complicados que os raios X.

A emissão espontânea desses raios foi denominada radioatividade.18 Vários cientistas estudaram a radiação emitida pelo urânio (e outros elementos) e chegou-se à conclusão de que existem três tipos principais de radiação: alfa (α), beta (β) e gama (γ). A radiação gama não tem carga elétrica, a radiação beta é formada por elétrons em alta velocidade (ou seja, tem carga 1−), e a radiação alfa é formada por partículas com carga positiva (2+), com cerca de 7400 vezes a massa de um elétron.

5.6O modelo atômico de Rutherford

Ideia centralRutherford descobriu que os átomos têm um núcleo muito pequeno e com carga positiva e que os elétrons ficam numa região grande e praticamente vazia em volta desse núcleo.

Para pôr o modelo de Thomson à prova, o físico neozelandês Ernest Rutherford utilizou um procedimento conhecido como experimento de Geiger–Marsden.19

Pense assim: você tem uma caixa completamente fechada e opaca, com algo desconhecido dentro. Você consegue ter uma ideia do tamanho da caixa e do peso dela, mas não necessariamente do que quer que esteja dentro dela. O que você pode tentar fazer pra descobrir o que tem na caixa, considerando que não dá pra abri-la? Dá pra balançar, chacoalhar, jogar pra lá e pra cá, mas não dá pra tirar muitas informações… O que resta?

Obviamente estraçalhar a caixa com uma submetralhadora.

Ok, é uma analogia drástica (e estúpida). Mas é mais ou menos a ideia do experimento de Geiger–Marsden. Esse experimento consistiu em bombardear uma fina folha metálica com partículas alfa e analisar possíveis desvios nas trajetórias delas.

Deu-se preferência a uma folha de ouro, já que ele é um metal extremamente maleável, formando folhas finíssimas. (Estima-se que a folha de ouro usada nesse experimento tinha uma espessura de centenas de átomos!)

A Figura 5.1321 mostra um arranjo simplificado do experimento de Geiger–Marsden. A ideia era avaliar possíveis desvios na trajetória das partículas alfa depois que elas atravessassem a folha de ouro. Se o modelo de Thomson descrevesse o átomo corretamente, esses desvios seriam bem pequenos (menos de um grau por átomo), já que o átomo teria as suas cargas positivas e negativas bem distribuídas, dando origem a um campo elétrico bem fraco que não influenciaria muito nas trajetórias das partículas alfa.

Ilustrações do aparato do experimento de Geiger–Marsden
FIGURA 5.13Experimento de Geiger–Marsden, visto de cima. Os feixes de partículas alfa estão indicados em azul (as setas brancas indicam o sentido das trajetórias), mas na vida real os feixes são invisíveis. A: O que era esperado que aconteceria, caso o modelo de Thomson estivesse correto. B: O que foi observado por Geiger, Marsden e Rutherford.

Só que o que os experimentos mostraram era completamente diferente. A maioria das partículas alfa atravessou sem desvio aparente, mas houve registro de partículas desviadas para várias direções, inclusive na direção oposta à da emissão.

Os resultados dos testes, combinados com vários cálculos matemáticos, fizeram com que Rutherford propusesse um novo modelo atômico, descartando o que havia sido sugerido por Thomson. A grande mudança proposta por Rutherford era que o átomo teria em sua estrutura uma carga central minúscula e extremamente pesada; foi nisso que bateram as poucas partículas alfa que se desviaram bastante.

Atualmente, o que se considera o modelo de Rutherford (Figura 5.1422) é a estrutura atômica formada por:

Ilustração mostrando um núcleo positivo e elétrons negativos girando em volta dele
FIGURA 5.14Modelo atômico de Rutherford, em uma escala completamente errada

Usando como exemplo o átomo de ouro, Rutherford calculou que o núcleo deveria ter um tamanho da ordem de 10−14 metros; já se sabia que o átomo de ouro tinha um tamanho aproximado de 10−10 metros. Ou seja, basicamente, o núcleo do átomo de ouro seria 10 mil vezes menor que o tamanho do átomo.23

Pense numa bolinha de gude, que tem um diâmetro de cerca de 2 cm. Se o núcleo do átomo de ouro tivesse esse tamanho, o átomo em si teria um diâmetro de 200 metros! Apenas para fins de comparação, o estádio do Maracanã tem uma dimensão de 317 por 279 metros.

Perceba que, com base nesses resultados, o átomo é quase um grande vazio. Todos os materiais que nós conhecemos, rígidos ou macios, opacos ou transparentes, frágeis ou resistentes… todos são formados por grandes e imensos (quase-)vazios.

Parabéns, você está começando a entender porque o mundo atômico é tão distinto.

5.7Partículas subatômicas

Ideia centralÁtomos são constituídos por três tipos de partículas: elétrons, prótons e nêutrons.

Elétron

O elétron (representado por e ou e)24 foi descoberto por J. J. Thomson e, como visto, foi o principal motivo para a proposição do seu modelo atômico. É uma partícula com carga elétrica considerada negativa25, e extremamente leve em relação à massa de um átomo inteiro. Está presente na eletrosfera do átomo, a região imensamente vazia que fica em volta do núcleo.

Próton

O próton (representado por p+ ou p) é uma partícula com carga elétrica contrária à do elétron, ou seja, positiva. Está presente nos núcleos de todos os átomos. É cerca de 1800 vezes mais pesada que o elétron. Foi descoberto a partir do estudo de raios canais (ou raios anódicos) em tubos de Crookes, que são raios que se deslocam no sentido contrário ao dos raios catódicos.

Mais tarde, Rutherford provou que o núcleo do átomo de hidrogênio estava presente nos núcleos de outros átomos. O átomo de hidrogênio é o mais leve de todos os átomos; estudos posteriores apontaram que o núcleo de hidrogênio seria uma “partícula elementar”, o próton. Os prótons foram descobertos por Rutherford, em 1919.

Nêutron

Através de técnicas experimentais, percebeu-se que nem todos os átomos de um mesmo elemento químico têm a mesma massa. Por exemplo, existem átomos de oxigênio que pesam cerca de 16 vezes a massa de um átomo de hidrogênio, mas também há átomos de oxigênio que pesam 17 vezes, 18 vezes… O modelo atômico constituído apenas de prótons e elétrons não explicava isso; deveria haver mais algo que desse essa massa extra a certos átomos.

Em 1932, o cientista inglês James Chadwick descobriu o que era isso: o nêutron (representado por n0 ou n)26 é uma partícula que está presente na maioria dos núcleos atômicos (Figura 5.1580), que não tem carga elétrica e é um pouquinho mais pesada que o próton.

Ilustração mostrando um núcleo (com prótons positivos e nêutrons neutros) e elétrons negativos girando em volta dele
FIGURA 5.15Modelo atômico de Rutherford, em uma escala completamente errada, incluindo as partículas nucleares

Comparação entre massas e cargas

Como visto no Capítulo 1, a massa de algo geralmente é expressa em quilogramas ou em gramas. Acontece que átomos são muito pequenos; prótons, nêutrons e elétrons, menores ainda. Então dificilmente vamos nos referir às massas deles em quilogramas. Podemos expressá-las, por enquanto, de maneira relativa. A mesma coisa com suas cargas elétricas: elas são expressas em coulombs. Mas por agora é desnecessário usar os valores em coulombs27, então podemos usar valores relativos também.

A Tabela 5.3 resume esses valores. A referência usada para as massas relativas foi o próton, portanto a tabela mostra que o elétron tem massa muito menor que a de um próton, e que o nêutron é apenas um pouquinho mais massivo do que o próton.

TABELA 5.3Massas e cargas relativas das partículas subatômicas
Partícula Símbolo Localização no átomo Massa relativa (ao próton) Carga relativa (ao próton)
elétron e eletrosfera ≈0,0005 −1
próton p+ núcleo28 1 +1
nêutron n núcleo ≈1,001 0

5.8Número atômico e número de massa

Ideias centraisO número atômico (Z) diz quantos prótons há num átomo. O número de massa (A) diz quantos prótons e nêutrons há no núcleo de um átomo. Átomos que têm o mesmo número atômico são do mesmo elemento. Isótopos são átomos do mesmo elemento que têm números de massa diferentes.

Ao longo da descoberta dos elementos químicos, foram feitas várias tentativas de organizar esses elementos.29 Nesse caminho, lançou-se mão de um número associado a cada elemento chamado de número atômico (Z)30. Posteriormente, se descobriu que esse número equivale ao número de prótons do átomo.

O número atômico de um átomo identifica a qual elemento aquele átomo pertence. Todos os átomos de um elemento possuem o mesmo número de prótons. Por exemplo, todos os átomos que têm seis prótons no núcleo são átomos de carbono; e todo átomo de carbono tem seis prótons no núcleo.

Só que o número de nêutrons de um átomo não tem uma restrição tão específica. No geral, se descreve um átomo pelo número atômico e pelo número de partículas que ele tem no núcleo, que é chamado de número de massa (A)31. Como o número de massa é a contagem de partículas nucleares73, ele é a soma da quantidade de prótons (Z, ou às vezes P, pra ficar explícito que é o número de prótons) com a quantidade de nêutrons (N):

A = Z + N

Para representar um átomo específico, usamos a seguinte simbologia:

\[\Large \ce{ ^{{número de massa}\ \Rightarrow\ $A$}_{{número atômico}\ \Rightarrow\ $Z$} E\ \Leftarrow\ {símbolo do elemento}}\]

Por exemplo, o tipo de átomo de ferro mais comum no universo tem no seu núcleo 26 prótons e 30 nêutrons. Portanto, seu número atômico é 26 e seu número de massa é 26 + 30 = 56, e podemos representá-lo por \(\ce{^{56}_{26}Fe}\). Aliás, como cada número atômico corresponde a apenas um elemento químico, sabemos que por ser um átomo de ferro ele tem obrigatoriamente 26 prótons, então não é tão necessário escrever o número atômico nessa simbologia; portanto, a notação 56Fe também é válida.

Isótopos

Como visto anteriormente, existem átomos do mesmo elemento que têm massas diferentes; essa diferença nas massas é causada pela diferença na quantidade de nêutrons nesses átomos. Átomos que são do mesmo elemento (portanto têm o mesmo número de prótons) mas têm diferentes quantidades de nêutrons (portanto também têm números de massa diferentes) são chamados de isótopos32.

Por exemplo, o elemento oxigênio tem três isótopos, que estão na Tabela 5.4. Quando queremos citar o nome de um certo isótopo, é comum dizermos o nome do elemento seguido pelo número de massa, como “oxigênio-16”, por exemplo.

De maneira geral, os isótopos de um elemento não têm nomes especiais, exceto os isótopos do hidrogênio (Figura 5.1681). Como os isótopos 2H e 3H têm características tão distintas do 1H33, eles têm nomes e símbolos próprios: o hidrogênio-2 é chamado de deutério (D) e o hidrogênio-3 é chamado de trítio (T).

Ilustrações dos átomos de hidrogênio-1, hidrogênio-2 e hidrogênio-3
FIGURA 5.16Modelos de Rutherford para os isótopos do hidrogênio
TABELA 5.4Isótopos naturais de alguns elementos químicos
Elemento Isótopo Símbolo Número de prótons Número de nêutrons Número de elétrons
hidrogênio hidrogênio-1 ou prótio 1H 1 0 1
hidrogênio-2 ou deutério 2H ou D 1 1 1
hidrogênio-3 ou trítio 3H ou T 1 2 1
carbono carbono-12 12C 6 6 6
carbono-13 13C 6 7 6
carbono-14 14C 6 8 6
oxigênio oxigênio-16 16O 8 8 8
oxigênio-17 17O 8 9 8
oxigênio-18 18O 8 10 8

5.9Íons

Ideias centraisÍons são átomos que perderam ou ganharam elétrons, e por isso, manifestam carga elétrica diferente de zero. Um ânion é um íon negativo e um cátion é um íon positivo.

Um átomo neutro tem a mesma quantidade de prótons e elétrons. Como as cargas dessas duas partículas têm o mesmo valor, apenas com sinais trocados, a carga resultante de um átomo é zero. Sendo assim, sabendo o número atômico de um átomo, sabemos quantos elétrons ele tem; por exemplo, um átomo neutro de sódio tem Z = 11, portanto tem 11 prótons e 11 elétrons; um átomo neutro de cloro tem Z = 17, portanto tem 17 prótons e 17 elétrons.

Acontece que nem sempre os átomos têm quantidades iguais de prótons e elétrons. Por diversos motivos, é possível alterar a quantidade de elétrons que um átomo tem. Como os elétrons estão na parte externa do átomo, é possível aumentar ou diminuir sua quantidade.

Se um átomo neutro ganha ou perde elétrons, ele não é mais neutro, e agora tem uma carga elétrica resultante, passando a ser chamado de íon. Existem dois tipos de íons:

Perceba que para formar um íon é alterada a quantidade de elétrons; a quantidade de prótons não muda. Por isso, para saber a quantidade de elétrons num íon, raciocinamos a partir do seu número atômico.

Por exemplo (Figura 5.1782):

Esquema mostrando que quando um átomo de Na perde um elétron ele se transforma em cátion, e quando um átomo de Cl ganha um elétron ele se transforma em ânion
FIGURA 5.17Esquema simplificado da estrutura dos átomos Na e Cl, e dos íons Na+ e Cl

Esse excesso de prótons ou elétrons num íon é representado no seu símbolo. A carga do íon é colocada à direita do símbolo, em caracteres sobrescritos (acima da linha). Se houver um excesso de mais de uma carga, o número vem antes do sinal35:

\[\underbrace{\ce{Na+}\ \ce{Ca^2+}\ \ce{Al^3+}}_{\text{cátions}}\quad \underbrace{\ce{Cl-}\ \ce{S^2-}\ \ce{N^3-}}_{\text{ânions}}\]

A definição de íon se estende a grupos de átomos também: é possível que um átomo de uma molécula ganhe ou perca elétrons, transformando-a num íon. Para representar um íon poliatômico (ou seja, formado por vários átomos), usamos a mesma notação. Por exemplo:

\[\ce{NH_4^+ { ou } NH^+_4} \quad \ce{SO_4^2- { ou } SO^2-_4}\]

No caso, o grupo NH4 inteiro tem uma carga positiva em excesso, e o grupo SO4 inteiro tem duas cargas negativas em excesso.36

5.10Interações entre luz e matéria

Ideias centraisA luz é um tipo de onda eletromagnética. Diferentes tipos de ondas eletromagnéticas podem interagir com a matéria. Amostras de elementos químicos podem emitir e absorver determinadas faixas de radiação eletromagnética (incluindo luz visível). Essas faixas podem ser usadas para caracterizar cada elemento.

Um aspecto muito relevante para o estudo da estrutura atômica foi o fato de que a luz interage com os átomos de maneira peculiar. Isso causou uma revolução no entendimento de diversos aspectos da Física, e mudou a forma de analisar o comportamento de átomos e partículas atômicas. Por enquanto, vamos preparar o terreno para poder discutir isso mais à frente.

Ondas

A luz pode ser considerada como uma onda. Uma onda é uma perturbação em um meio que ocorre de maneira periódica, transportando energia. As ondas no mar, por exemplo, ou aquelas causadas na água quando você joga uma pedra num lago.

De maneira geral, essa perturbação acontece na forma de repetidas oscilações em torno de uma posição de equilíbrio, por exemplo, ao se balançar a ponta de uma corda esticada e presa em algum lugar (Figura 5.1837).

Pessoa balançando uma corda de academia, formando uma onda
FIGURA 5.18Ao balançar a corda, há a formação de ondas que se propagam ao longo dela Scott Webb / Pixabay

O tipo de onda mais comum é a onda senoidal, que tem o formato de uma senoide (gráfico da função seno, na matemática), que é uma curva que sobe e desce de maneira suave e repetida (Figura 5.1938). Os pontos mais altos de uma onda são chamados de cristas, e os mais baixos são chamados de vales. Nas definições abaixo, considere que “oscilação” se refere a uma subida e a uma descida, voltando à altura inicial.

Ilustração mostrando o formato de uma onda senoidal, uma crista, um vale, e o comprimento de onda
FIGURA 5.19Esquema de uma onda senoidal

Uma onda senoidal possui algumas características específicas:

Por meio de uma regra de três, podemos encontrar uma relação entre o período e a frequência:

\[\begin{array}{rcl} \text{número de oscilações} & & \text{tempo} \\ 1 & \rule[0.5ex]{2em}{0.5pt} & T \\ f & \rule[0.5ex]{2em}{0.5pt} & 1 \end{array}\]

\[f \cdot T = 1 \cdot 1\Rightarrow T = \dfrac{1}{f} \Leftrightarrow f = \dfrac{1}{T}\]

A velocidade (v) de uma onda pode ser dada pela distância entre uma oscilação e outra, dividida pelo tempo dessa oscilação, ou seja:

\[v = \dfrac{\text{distância}}{\text{tempo}} = \dfrac{\lambda}{T} = \lambda \cdot f\]

Ondas são consideradas mecânicas se elas se propagam apenas em meios materiais (por exemplo, o som); se elas conseguem também se propagar no vácuo, elas são consideradas ondas eletromagnéticas (por exemplo, a luz).

Espectro eletromagnético

A luz que nós humanos enxergamos é uma pequena parte de um conjunto de ondas eletromagnéticas com diversos comprimentos de onda, chamado de espectro eletromagnético. A velocidade de todas essas ondas, quando se propagam no vácuo, é a chamada velocidade da luz: c ≈ 3 × 108 m/s42.

O espectro eletromagnético é dividido em várias regiões, de acordo com a frequência e comprimento de onda (Figura 5.2043). Em ordem crescente de frequência (e em ordem decrescente de comprimento de onda):

Esquema mostrando as faixas do espectro eletromagnético, com um detalhe para a faixa da luz visível
FIGURA 5.20Espectro eletromagnético e suas regiões
Mão segurando celular, que mostra o que está à frente, em vários tons de amarelo, vermelho e roxo
FIGURA 5.21Um celular equipado com uma câmera térmica. Os sensores da câmera detectam a radiação infravermelha emitida pelos objetos e seres humanos por causa da sua temperatura, gerando uma imagem. Como a radiação infravermelha é invisível, as imagens são do tipo “falsa cor” (false color), na qual as cores são atribuídas de acordo com a temperatura. Geralmente se usa cores frias (azul, violeta) para as temperaturas mais baixas registradas naquela imagem e cores quentes (vermelho, laranja, amarelo) para as temperaturas mais altas registradas Maurizio Pesce / Wikimedia Commons

Mais adiante, veremos que é possível estabelecer uma relação entre a frequência de uma onda eletromagnética e a energia que ela transporta. Em resumo, quanto mais alta a frequência, mais energética é a onda.

Espectros atômicos

Um dos fenômenos importantes para o estudo da estrutura atômica foi o fato de que átomos podem absorver energia (na forma de calor, luz ou eletricidade) e reemitir essa energia na forma de luz. Podemos observar esse fenômeno em diversas lâmpadas, por exemplo (Figura 5.2247).

A: Letreiro vermelho de neon. B: Postes com luz amarela em uma praça à noite. C: Lâmpada fluorescente de luz branca
FIGURA 5.22A: Lâmpadas de neon contêm o gás neônio, e ao receberem energia elétrica, emitem luz de cor vermelha. B: Lâmpadas de vapor de sódio emitem luz amarela ao receberem energia elétrica. C: Lâmpadas fluorescentes contêm vapor de mercúrio que, quando recebe energia elétrica, reemite essa energia na forma de radiação ultravioleta invisível, que é absorvida pelo revestimento interno do tubo e reemitida como luz branca. A: Pslawinski / Wikimedia Commons, B: Celso Santa Rosa / Prefeitura de Belo Horizonte / Flickr, C: PublicDomainPictures / Pixabay

Para analisar essas luzes coloridas emitidas por diversos elementos, pode-se usar um prisma para separar as diferentes frequências das ondas que formam as luzes emitidas. Fazendo-se isso, e projetando a luz “espalhada” pelo prisma em um papel fotográfico, são obtidas sequências de linhas chamadas de espectros atômicos; nesse caso, especificamente, são espectros de emissão (Figura 5.2348).

Espectroscópio, com a luz de uma lâmpada atravessando uma fenda numa placa e passando por um prisma, formando uma faixa de luzes coloridas
FIGURA 5.23Um espectroscópio simples. A: A luz da lâmpada passa pela fenda (ao centro) e vai em direção ao prisma, que a decompõe. B: A luz de uma lâmpada incandescente dá origem a um espectro contínuo. C: A luz de uma lâmpada fluorescente dá origem a um espectro discreto Timwether / Wikimedia Commons

Estudos desses espectros mostraram que cada elemento químico tinha um espectro de emissão único e característico; não havia dois elementos com a mesma sequência de linhas espectrais (as linhas do espectro). Ou seja, os espectros de emissão são como impressões digitais dos elementos, e podem ser usados para identificá-los em amostras desconhecidas (Figura 5.2483).

Dez faixas horizontais pretas com várias linhas coloridas finas verticais
FIGURA 5.24Espectros de emissão de alguns elementos químicos. Cada espectro está exposto em ordem crescente de comprimento de onda (de 380 a 760 nm), do violeta para o vermelho. Julie Gagnon, com dados do NIST Atomic Spectrum Database / Domínio público

Além disso, os espectros atômicos são discretos (têm apenas algumas frequências), ao contrário do espectro de uma luz branca, que é contínuo (tem um gradiente de frequências, sem interrupções). A Física clássica não conseguia explicar o porquê disso.

Na verdade, de acordo com a Física clássica, o átomo talvez nem devesse existir de maneira estável.

5.11O modelo atômico de Bohr

Ideias centraisSegundo Bohr, os elétrons de um átomo estão organizados em níveis de energia, e cada elétron gira ao redor do núcleo em uma trajetória circular. É possível que um elétron mude de órbita ao receber ou perder quantidades específicas de energia.

O modelo de Rutherford tinha um problema. Como os elétrons estão em volta do núcleo, que é positivo, existe uma atração elétrica entre eles. Se os elétrons estivessem parados em volta do núcleo, a atração elétrica faria com que os elétrons se movessem diretamente na direção do núcleo, tornando o átomo inviável. A outra opção seria os elétrons girarem ao redor do núcleo.

Segundo a Física clássica, quando uma partícula carregada eletricamente (como o elétron) é acelerada (como acontece num movimento circular), ela emite energia na forma de ondas eletromagnéticas49. Só que, caso isso acontecesse no átomo, o elétron gradualmente50 perderia velocidade e faria um movimento em espiral em direção ao núcleo.

Já se sabia que o átomo não era tão instável assim, então o modelo de Rutherford tinha algumas coisas a serem corrigidas. Isso fez com que fossem sugeridas modificações para o modelo de Rutherford. A principal foi feita pelo físico dinamarquês Niels Bohr.

O modelo que Bohr sugeriu51 (Figura 5.2552) pode ser resumido em alguns postulados:

Ilustração mostrando um núcleo (com prótons positivos e nêutrons neutros) e elétrons negativos girando em volta dele em trajetórias circulares concêntricas
FIGURA 5.25Modelo atômico de Bohr, em uma escala completamente errada

O modelo de Bohr dava uma boa explicação para o porquê de os átomos emitirem luz depois de receberem energia. Ao receber energia, o elétron se move para uma órbita mais externa; quando ele volta para uma órbita mais interna, a energia que ele absorveu é reemitida como uma onda, cuja frequência depende da quantidade de energia absorvida. Dependendo da energia, a onda liberada pode estar na faixa da luz visível, e ser identificada como uma cor específica.

Apesar disso, o modelo de Bohr tinha limitações: só explicava direito o espectro do hidrogênio e não se aprofundava no porquê de os elétrons não irem de encontro ao núcleo. Espectros de átomos maiores eram explicados parcialmente, e o elétron ficava sem bater no núcleo por motivos desconhecidos (tecnicamente, ainda há a contradição de o elétron ser carregado e não perder energia enquanto gira).

Esses problemas foram eventualmente resolvidos, juntamente com uma mudança radical na percepção dos comportamentos do elétron e da luz. Mas veremos essa mudança em outra ocasião. Por agora, o modelo de Bohr ainda é suficiente para explicar muitos comportamentos dos átomos, se dermos uma ignorada nessas limitações.

5.12Estrutura da eletrosfera

Ideias centraisA eletrosfera é dividida em camadas (que correspondem aos níveis de energia do modelo de Bohr), que são constituídas por subníveis. Os elétrons se distribuem na eletrosfera ocupando os subníveis numa ordem crescente de energia.

Níveis ou camadas

A eletrosfera é organizada em níveis de energia, também chamados de camadas. Os níveis são nomeados, do mais interno para o mais externo, seguindo a ordem: K, L, M, N, O, P, Q53. A cada nível está associado um número n, chamado de número quântico principal, que varia de 1 a 754 (o nível K tem n = 1, L tem n = 2, etc.). A energia dos níveis aumenta à medida em que eles se afastam mais do núcleo. (Figura 5.2655)

Perfil lateral do átomo segundo Bohr, mostrando sete camadas eletrônicas (K, L, M, N, O, P e Q)
FIGURA 5.26Os níveis do átomo têm energia crescente, maior à medida que estão mais longe do núcleo. O elétron só pode ficar nesses níveis e, ao mudar de um para outro, absorve ou libera energia

O elétron só pode estar em um dos níveis, com a energia correspondente. Não é possível ele estar entre dois níveis, com uma energia diferente. Dizemos que a energia do átomo é quantizada, ou seja, só pode ter determinados valores.

Basicamente, é como se a energia do elétron fosse parecida com a altura em que você pode ficar numa escada, pisando com os dois pés juntos. Não é possível ficar estável com os dois pés em qualquer altura, apenas nas alturas dos degraus. Se fosse uma rampa, você conseguiria ficar em praticamente qualquer altura coberta por ela (Figura 5.2790).

Ilustração de um elétron numa rampa e numa escada
FIGURA 5.27Em uma rampa é possível ficar posicionado em várias alturas, sem restrição. Em uma escada só é possível ficar posicionado nas alturas correspondentes aos degraus. A energia do átomo pode ser interpretada como as alturas possíveis numa escada; o elétron só pode ter certos valores de energia

Normalmente os elétrons estão localizados em níveis que deixam o átomo com a menor energia possível, numa situação chamada de estado fundamental. Quando o átomo recebe uma quantidade adequada de energia, os elétrons saltam para níveis mais externos, e dizemos que o átomo está num estado excitado.

Eventualmente, os elétrons retornam para seus níveis do estado fundamental, e o átomo libera energia, geralmente na forma de ondas eletromagnéticas, como luz visível.

Subníveis

Análises mais detalhadas dos espectros atômicos, com equipamentos mais sensíveis, mostraram que algumas das linhas obtidas eram formadas por um conjunto de linhas finíssimas muito próximas. Posteriormente, observou-se que essas linhas finíssimas eram causadas, dentre outras razões, pela existência de subníveis eletrônicos.

Cada nível engloba alguns subníveis, com quantidade limitada de elétrons. A princípio, existem diversos subníveis mas, para os elementos químicos conhecidos, só foram observados quatro56:

Em teoria, o nível K (n = 1) tem 1 subnível, o nível L (n = 2) tem 2 subníveis, e assim por diante, até o nível Q (n = 7), que deveria ter 7 subníveis. Mas nem todos os níveis da eletrosfera contêm cada um desses subníveis. Para os elementos químicos conhecidos, esses são os subníveis existentes em cada nível:

TABELA 5.5Subníveis dos átomos conhecidos
Nível n Subníveis Número máximo de elétrons observado no nível
K 1 1s 2
L 2 2s, 2p 8
M 3 3s, 3p, 3d 18
N 4 4s, 4p, 4d, 4f 32
O 5 5s, 5p, 5d, 5f 32
P 6 6s, 6p, 6d 18
Q 7 7s, 7p 8

As notações dos subníveis usadas na Tabela 5.5 seguem a estrutura: número do nível + símbolo do subnível. Por exemplo: 5d é o subnível d do nível 5 (O), 4f é o subnível f do nível 4 (N), etc.

Distribuição eletrônica

Considere um átomo de sódio, com número atômico 11. Se ele tem Z = 11, ele tem onze prótons e, sendo um átomo neutro, tem onze elétrons. Como esses elétrons ficam dispostos na eletrosfera desse átomo?

De maneira geral, quando consideramos um átomo no seu estado fundamental, os elétrons sempre tendem a ocupar por primeiro os subníveis de menor energia, e à medida em que estes ficam preenchidos, os de maior energia vão sendo ocupados. Esse princípio é chamado de princípio da construção, ou princípio (de) Aufbau58.

Acontece que, apesar de eu ter dito antes que os níveis têm energia crescente do K ao Q, quando se trata de subníveis, as coisas não são tão lineares assim. A partir de observações experimentais, notou-se que a ordem crescente de energia dos subníveis para a maioria dos elementos é:

1s < 2s < 2p < 3s < 3p < 4s < 3d < 4p < 5s < 4d < 5p < 6s < 4f < 5d < 6p < 7s < 5f < 6d < 7p

Existe um diagrama bastante usado para não ter que decorar essa exata ordem chamado de diagrama de Pauling (Figura 5.28), em referência ao químico americano Linus Pauling59.

Para prever como os elétrons estão distribuídos num átomo, percorre-se o diagrama seguindo as setas diagonais, uma após a outra, de cima para baixo. Ao passar por um subnível, é “colocado” o número de elétrons necessário para preenchê-lo, e segue-se para o próximo subnível. Enche-se esse subnível, e vai para o próximo, e assim por diante, até acabarem os elétrons; não é necessário que o último subnível esteja completo.

Diagrama mostrando a ordem de preenchimento dos subníveis
FIGURA 5.28Diagrama de Pauling

Por exemplo: para o sódio, com número atômico 11, temos (Figura 5.2991):

11Na: 1s2 2s2 2p6 3s1

Diagrama de Pauling mostrando os subníveis ocupados no átomo de sódio
FIGURA 5.29Uso do diagrama de Pauling para fazer a distribuição eletrônica do sódio (Z = 11)

Essa sequência de subníveis indicando onde os elétrons estão é chamada de configuração eletrônica. A notação usada mostra os números de elétrons em cada subnível: 1s2 (lê-se “um S dois”) indica que o subnível 1s tem 2 elétrons, 2p6 (lê-se “dois P seis”) indica que o subnível 2p tem 6 elétrons, etc.

De maneira similar, o diagrama de Pauling pode ser usado para prever as configurações eletrônicas dos átomos de outros elementos no estado fundamental. Alguns exemplos estão na Tabela 5.6.

TABELA 5.6Configurações eletrônicas previstas para alguns elementos selecionados
Elemento Configuração eletrônica em subníveis Configuração eletrônica com cerne de gás nobre Configuração eletrônica em ca
12Mg 1s2 2s2 2p6 3s2 [Ne] 3s2 2, 8, 2
35Br 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p5 [Ar] 4s2 3d10 4p5 2, 8, 18, 7
41Nb 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d3 [Kr] 5s2 4d3 2, 8, 18, 11, 2
60Nd 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s2 4d10 5p6 6s2 4f4 [Xe] 6s2 4f4 2, 8, 18, 22, 8, 2

Eventualmente, quando a configuração eletrônica em subníveis é muito grande, pode-se encurtá-la usando como referência a configuração do gás nobre (elemento do grupo 18 da tabela periódica) que vem antes do elemento. Costuma-se dizer que essa forma é uma configuração com cerne de gás nobre.70 No exemplo do sódio, o primeiro gás nobre que vem antes dele na tabela periódica é o neônio (Z = 10), com configuração 1s2 2s2 2p6. A partir dela, podemos encurtar a configuração do sódio:

\[\ce{_11Na: \underbrace{{\color{violet} 1s^2 2s^2 2p^6}}_{\substack{\text{os primeiros} \\ \text{dez elétrons} \\ \text{equivalem à} \\ \text{configuração} \\ \text{do neônio}}} 3s^1} \Rightarrow \ce{{\color{violet} [Ne]} 3s^1}\]

É possível obter também a configuração em níveis (ou em camadas), a partir da configuração em subníveis; para isso, agrupamos os elétrons dos subníveis com mesmo n. Voltando ao exemplo do sódio, como sua configuração é 1s2 2s2 2p6 3s1, há dois elétrons na camada K (formada pelo subnível que começa com “1”: 1s2), oito elétrons na camada L (subníveis que começam com “2”: 2s2 2p6) e um elétron na camada M (subnível que começa com “3”: 3s1):

\[\ce{_11Na: \underbrace{{\color{orange} 1s^2}}_{\substack{\text{subnível do} \\ \text{nível 1 (K)}}} \underbrace{{\color{green} 2s^2 2p^6}}_{\substack{\text{subníveis do} \\ \text{nível 2 (L)}}} \underbrace{{\color{cyan} 3s^1}}_{\substack{\text{subnível do} \\ \text{nível 3 (M)}}}} \Rightarrow {\color{orange}2}, {\color{green}8}, {\color{cyan}1} \textrm{ ou } {\color{orange}2}—{\color{green}8}—{\color{cyan}1} \textrm{ ou } \textrm{K: }{\color{orange}2}, \textrm{L: }{\color{green}8}, \textrm{M: }{\color{cyan}1}\]

Na Tabela 5.6 há outros exemplos de configurações com cerne de gás nobre e configurações em camadas eletrônicas.

A configuração prevista pelo diagrama de Pauling é útil em muitos casos. Mas existem vários elementos que têm configurações eletrônicas observadas experimentalmente que não correspondem ao que é previsto por esse diagrama. Por exemplo, um átomo de cromo (24Cr) tem configuração eletrônica 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s1 3d5, sendo que isso não é o que é previsto pelo princípio da construção (a configuração prevista acabaria em 4s2 3d4, seguindo o princípio de que um subnível tem que estar cheio para que o próximo receba elétrons).71 Apesar disso, algumas generalizações ainda podem ser feitas, considerando-se as configurações previstas (por exemplo, as posições dos elementos na tabela periódica).

Configurações eletrônicas de íons

Quando um átomo se transforma em íon, são adicionados ou retirados elétrons da eletrosfera, e isso se reflete na configuração eletrônica.

No caso de ânions, os elétrons recebidos são colocados no subnível (parcialmente preenchido ou vazio) com menor valor de n; frequentemente é o último subnível da configuração. Por exemplo:

9F: 1s2 2s2 2p5 \(\xrightarrow{\text{ganha um elétron}}\) 9F: 1s2 2s2 2p6

16S: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p4 \(\xrightarrow{\text{ganha dois elétrons}}\) 16S2−: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6

No caso de cátions, os elétrons retirados são aqueles do subnível com maior valor de n, considerado o subnível mais externo, mesmo que não corresponda à ordem da configuração60. Por exemplo:

3Li: 1s2 2s1 \(\xrightarrow{\text{perde um elétron}}\) 3Li+: 1s2

26Fe: [Ar] 4s2 3d6 \(\xrightarrow{\text{perde dois elétrons}}\) 26Fe2+: [Ar] 3d6

27Co: [Ar] 4s2 3d7 \(\xrightarrow{\text{perde três elétrons}}\) 27Co3+: [Ar] 3d6

50Sn: [Kr] 5s2 4d10 5p2 \(\xrightarrow{\text{perde quatro elétrons}}\) 50Sn4+: [Kr] 4d10

Fogos de artifício

Inventados na China, os fogos de artifício são usados no mundo todo em diversas celebrações, desde a chegada do ano novo até a vitória do seu time em um jogo de futebol. Geralmente é aquele espetáculo de luzes, formas e cores no céu (Figura 5.30) ou, em algumas vezes, só um barulho irritante que seu vizinho faz com um rojão vagabundo.

Fogos de artifício no céu de uma praia à noite
FIGURA 5.30Fogos de artifício em uma celebração de 4 de Julho na praia de Fort Lauderdale, EUA JTOcchialini / Wikimedia Commons

Mas o quê nos fogos de artifício causa essas cores?

O princípio básico de funcionamento de um fogo de artifício é um cilindro que contenha algum explosivo, que vai impulsioná-lo para o céu, e um material que causa as luzes coloridas. O explosivo geralmente é pólvora negra, uma mistura de nitrato de potássio (KNO3), enxofre (S) e carvão (C); outra possibilidade é o perclorato de potássio (KClO4).

Para criar as cores são usadas diversas substâncias chamadas quimicamente de sais. Elas são formadas por cátions e ânions, e são os cátions os responsáveis pelas cores. Isso está relacionado ao fato de que, quando um átomo (ou íon) recebe energia, como o calor da queima do explosivo, seus elétrons sofrem excitação e vão para níveis energéticos mais altos; eventualmente esses elétrons retornam para seus níveis originais do estado fundamental, liberando como luz a energia que foi absorvida.

A energia envolvida nessas transições depende do elemento, e está associada com a cor da luz emitida por ele. Algumas das cores que são obtidas em fogos de artifício são:

Fontes consultadas: ALVES, L. Química presente nos fogos de artifício / CFQ - CONSELHO FEDERAL DE QUÍMICA. Você conhece a Química por trás dos fogos de artifício?, 30 dez. 2019 / COMPOUND INTEREST. The Chemistry of Fireworks, 30 dez. 2013. Acessos em: 18 jan. 2021

Resumo

5.1O conceito filosófico de átomo

5.2O modelo atômico de Dalton

5.3Símbolos e fórmulas químicas

5.4Eletricidade e o modelo atômico de Thomson

5.5Radioatividade

5.6O modelo atômico de Rutherford

5.7Partículas subatômicas

5.8Número atômico e número de massa

5.9Íons

5.10Interações entre luz e matéria

5.11O modelo atômico de Bohr

5.12Estrutura da eletrosfera